Pensar é preciso
TEREZA
CRUVINEL ALERTA PARA AÇÕES FASCISTAS QUE TENTAM MINAR A DEMOCRACIA E A
PAZ

Ela continua e afirma: “É verdade que
não há direita ou extrema direita organizada em partidos no Brasil. Todos eles
se dizem de esquerda, centro-esquerda ou centro. Mas as atitudes e as ideias
que melhor traduzem a direita foram se consolidando nos últimos 10 anos. Ao
longo deles, vimos crescer a intolerância para com o divergente, o preconceito
contra os pobres (especialmente a partir do advento do Bolsa Família), e entre
os pobres, o desejo de ostentar e consumir, estimulado pelo aumento da renda.
Nesse tempo, ganhou força o moralismo udenista e os democratas de fachada, que
buscavam pretexto em qualquer palha seca para denunciar ‘cerceamento’,
‘tentativas de controle’ , ‘ameaças à liberdade de expressão’. Depois veio a
negação das instituições políticas, especialmente do Congresso e dos partidos,
que já falharam muito, mas são insubstituíveis no funcionamento da democracia.
A urgência é de aperfeiçoá-los com uma reforma política, ou de mudar-lhes a
composição nas próximas eleições. A quem, senão a esta direita autoritária e
difusa, sem rosto e sem partido, interessa a desmoralização das instituições
que vêm sendo construídas a tanto custo, desde o fim da ditadura?, questiona.
Segundo Tereza Cruvinel, o PT, para
chegar ao poder e nele ficar, cometeu seus erros. “Não exatamente os de que é
acusado, levando à cadeia seus melhores quadros. Não soube, de todo modo,
enfrentar a vertigem, contrapor-se aos que se valeram de seu infortúnio para
fomentar a descrença na política. A internet contribuiu, e, em seu território,
os contendores passaram a se esgrimir com uma violência verbal inaudita,
incivilizada, agressiva. Puderam livremente ofender, tripudiar, agredir,
desqualificar, provocar. A princípio, digladiavam os representantes da
polaridade PT-PSDB. Depois, outras forças entraram no jogo e o dominaram”,
destaca.
Para mostrar esse cenário, sombrio, a
jornalista aponta seu espanto ao constatar o que pensa um seguidor de sua
página nas redes sociais. Mas o que manifesta e defende esse indivíduo: “A
violência é a única forma de luta e o sangue é o combustível da história”.
Lembra Tereza Cruvinel que a frase é de Stalin, no contexto da guerra contra
Hitler. “Tudo isso fomos achando normal. As palavras ajudaram a gestar as
ações. As manifestações autênticas e democráticas de junho abriram a porteira
para a violência que mostrou sua cara em julho. As máscaras de Anonymous eram
vendidas na Rua 25 de Março, em São Paulo, por meros R$ 0,50. Achamos
normal, mas obviamente alguém estava pagando. Surgiram os black blocs, mas ai
de quem criticasse essa ‘nova forma de militância’”.
Tereza Cruvinel observa que encerrada a
fase de protestos contra o aumento de preço das passagens de ônibus, o próximo
foco de ação foi as ações para a realização da Copa do Mundo e, em seguida, os
tais rolezinhos nos shoppings centers, o que reacendeu o vulcão da violência,
tendo como resultado centenas de ônibus incendiados, quebra-quebra no metrô,
barbárie num presídio e justiça com as próprias mãos nas ruas. “E tome
discursos semifascistas, vindos até de uma apresentadora de televisão”, diz
ela, acrescentando que “nós, imprensa, fizemos a nossa parte nesta construção
canhestra”.
Na parte final de seu texto, a
jornalista também revela como se deu uma construção negativista que alimenta o
discurso frágil de que é preciso mudar “isso que está aí”, na falta de
argumentação. O papel das televisões na construção desse cenário foi curvado
para as ações do autoritarismo vândalo. Tereza Cruvinel afirma que “ante a
força de Lula e a debilidade da oposição, surgiu a ideia de que a imprensa
deveria substituí-la. Nenhum presidente foi hostilizado como ele, nenhum
governo tratado como o dele. Mais dos que as críticas do PT aos meios de
comunicação, foi a transfiguração do jornalismo em oposicionismo que mais fomentou
as hostilidades à mídia nas manifestações. Mas, como elas podiam ser úteis para
desgastar o governo Dilma, as emissoras de televisão se curvaram ao
autoritarismo vândalo, cobrindo os protestos com carros não identificados.
Nesta fervura, fatalmente aconteceria uma morte, e ela precisa servir como hora
do espanto para todos. Finalmente, o governo anuncia que proporá uma lei que,
assegurando o sagrado direito de manifestação, possa coibir a violência nos
protestos. É preciso ter a coragem do cientista Wanderley Guilherme dos Santos
para dizer: ‘Sou a favor da criminalização e da repressão às manifestações
criminosas, a saber, as que agridam pessoas, depredem propriedade,
especialmente públicas, e convoquem a violência para a desmoralização das
instituições democráticas e representativas’. Endosso”. Para finalizar, ela
conclui que de nada servirá a nova lei se “não acordarmos para o fato de que,
nesta batida, vamos dar em algum buraco. É preciso dar combate às ideias e às
ações que não servem à paz e à democracia”.
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