A hora de homenagear um dos filhos mais ilustres de Herval é agora
Tramita na Câmara Municipal de Vereadores um Projeto de Lei, de iniciativa do vereador Ricardo Aquino Faria (PP), que propõe que o prédio da prefeitura seja denominado de “Centro Administrativo Luiz Alberto Soares Perdomo”. A iniciativa acabou gerando muitas controvérsias e, por conta disso, resolvi opinar sobre esse assunto e apresentar as razões pelas quais entendo que tal projeto deva ser apreciado e aprovado pelos nossos representantes no Legislativo Municipal.
Em primeiro lugar, a iniciativa partiu do vereador Ricardo porque de todos os vereadores, ele era a figura mais próxima do Bebeto. Acompanhei vários momentos da relação deles e entendo que ninguém tem mais legitimidade para apresentar tal propositura do que o Ricardo. Além de grandes amigos de longa data, eles foram companheiros de partido, no PDT, depois no PPL e, por último no próprio PP. Além disso, eles trabalharam juntos no segundo governo do prefeito Ildo, quando Bebeto que foi eleito vice-prefeito, assumiu o comando da Secretaria de Obras por um determinado tempo; pasta que Ricardo, funcionário público de carreira, dedicou à vida como patroleiro. Mesmo como prefeito de Pedras Altas, sou testemunha do trabalho político que o Bebeto vinha fazendo, junto aos governos federal e estadual, no intuito de atender pautas do vereador Ricardo em favor da nossa comunidade. Portanto, a motivação dessa homenagem é a mais pura possível e não objetiva nenhuma promoção pessoal.
Em segundo lugar, cumpre dizer da legalidade dessa iniciativa, tendo em vista que nomear ruas, espaços ou prédios públicos está entre as prerrogativas exclusivas da Câmara de Vereadores. Alguém dirá que é estranho ou inoportuno nomear a prefeitura. Em resposta digo que recentemente estive em São Borja, cuja sede da administração municipal recebe o nome de “Palácio Presidente João Goulart”, assim como a sede administrativa de inúmeras prefeituras país afora também recebem alguma denominação. Recordo ainda o “Centro Administrativo Fernando Ferrari”, que sedia a maioria das Secretarias Estaduais. Há quem diga também que o nome não vai pegar ou coisa que o valha. Gente, a ideia de um prédio público receber uma denominação não significa que no dia a dia ou os “cidadãos comuns” devam se referir a ele pelo nome. Estamos falando de uma homenagem póstuma, cuja principal distinção se encontra no caráter oficial ou solene que o ato proposto adquire.
Outros dirão que a prefeitura já possui uma denominação. Nesse caso, convido a quem utiliza esse argumento a apresentar a Lei Municipal que nomeou o prédio da prefeitura ou mesmo indicar a placa consagrando tal feito. Tenho vários anos de vida pública e nunca visualizei nenhuma legislação que verse sobre esse tema e a placa existente na entrada da prefeitura menciona apenas que o prédio fora “reconstruído em 1983, durante a administração de Ottoni Amaro da Silveira”. Noutra placa, colocada na fachada do prédio, consta tão somente a seguinte inscrição: “Intendência Municipal, construída na Administração de Albino da Silva Silveira, em 1909”. Ou seja, atesta que fora construída durante tal gestão, e não que a edificação recebe a denominação do prefeito da época.
Ah, mas por que não homenagear o Bebeto de outra maneira, dando o nome dele a uma rua ou bairro existente? Porque uma figura tão grande, merece uma homenagem marcante e com mais visibilidade. Lembro também que renomear uma das ruas principais ou mesmo um bairro, além de prejudicar a memória ou desprestigiar outro homenageado, traria transtornos com a necessária atualização dos documentos que indicam a localização de residências e estabelecimentos comerciais situados no respectivo território. Ademais, a maior parte da vida pública do Bebeto foi vivida no prédio em questão, uma vez que anteriormente a Câmara de Vereadores era instalada ali e como vice-prefeito esse também fora o seu local de trabalho.
Por fim, importante reforçar o mérito dessa iniciativa. Ainda mais ao ver várias cidades da região propondo algum tipo de homenagem ao Bebeto, penso que nós hervalenses temos por obrigação não só manter vivo o seu legado, mas deixar o seu nome gravado e eternizado na nossa história. Bebeto foi um hervalense que, mesmo quando saiu de Herval para estudar ou alçar novos vôos na política, a Sentinela da Fronteira nunca saiu dele. Bebeto fez mais por Herval do que exercer os cargos de vereador ou vice-prefeito, sempre simbolizando a boa política o que lhe rendeu o respeito de todas as correntes e forças políticas. Sua marca e contribuição também foi dada como professor (fui um dos seus muitos alunos), no divertimento de várias gerações com a sua famosa e saudosa danceteria (que chamamos discoteca), no trabalho social e pelo desenvolvimento local que ele sempre realizou e, sobretudo, como servidor e dirigente da Companhia Estadual de Energia Elétrica. Quanta gente deixou de ter a luz cortada ou mesmo saiu da escuridão e teve acesso à luz elétrica graças ao trabalho e sensibilidade humana que ele sempre teve!
A proposta do vereador Ricardo não visa prestar homenagem a alguém que viveu há muitos séculos antes de nós nem a nenhum estranho, que morou a muitos quilômetros de distância da nossa terra (como vejo muitas homenagens surgindo do mundo todo à memória da Rainha Elizabeth), por mais meritória e digna de aplausos suas vidas tenham sido. Também não se trata simplesmente de homenagear “um dos nossos”, mas destacar alguém que fez a diferença e foi nosso contemporâneo e tivemos o privilégio de compartilhar muitos momentos com ele. O que está em questão é homenagear um grande amigo, um grande filho de Herval, um grande homem público e uma liderança destacada da nossa região, com uma trajetória marcada pela defesa do municipalismo, a luta em prol do interesse público e o trabalho incansável em favor da justiça e da proteção social das pessoas menos favorecidas. Que não se deixe “esse cavalo passar encilhado”, perdendo a chance de prestar uma homenagem justa, merecida e que não deve ser prestada apenas lá no futuro, por aqueles que virão depois de nós!
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