Pensar é preciso!
Sinto-me muito
a vontade em compartilhar o escrito do grande Luís Fernando Veríssimo, primeiro
por que assino embaixo daquilo que ele escreve; segundo porque, mesmo antes da
vitória e depois da posse da presidenta Dilma, venho alertando para o sentimento
e o clima golpista que vem tomando conta do Brasil ou ao menos de uma parte do
Brasil que só aceita a democracia quando ela lhes permite estar no poder. Um sentimento e um clima que não nasceu ou é
sentido com mais força nas ruas, e sim nos altos espaços institucionais do
país.
Do meu ponto de
vista, a oposição recuou um pouco nesse intento ano passado, apenas porque acreditava
que não perderia novamente nas urnas em 2014. Perdeu! Perdeu, e como era de
imaginar dado o seu instinto golpista, não aceita a derrota, levou a eleição
para o terceiro turno e voltou a vislumbrar o golpe político-institucional como
caminho para retomar o espaço, o status e o modelo de país que sempre fez mal a
maioria dos brasileiros e nos deixou para trás na relação com as outras nações.
Ouçamos as vozes lúcidas, como a de Veríssimo, antes
que seja tarde e a democracia, o Estado de Direito e as conquistas do povo brasileiro sejam golpeados e jogados pelo ralo...
Veríssimo: quando vamos
acordar para a barbárie golpista que ameaça o Brasil?
Às vezes
imagino como seria ser um judeu na Alemanha dos anos vinte e trinta do século
passado, pressentindo que alguma coisa que ameaçava sua paz e sua vida estava
se formando mas sem saber exatamente o quê. Este judeu hipotético teria
experimentado preconceito e discriminação na sua vida, mas não mais do que era
comum na história dos judeus. Podia se sentir como um cidadão alemão, seguro
dos seus direitos, e nem imaginar que em breve perderia seus direitos e
eventualmente sua vida só por ser judeu.
Em que
ponto, para ele, o inimaginável se tornaria imaginável? E a pregação
nacionalista e as primeiras manifestações fascistas deixariam de ser um
distúrbio passageiro na paisagem política do que era, afinal, uma sociedade em
crise mas com uma forte tradição liberal, e se tornaria uma ameaça real? O
ponto de reconhecimento da ameaça não era evidente (…). Muitos não o
reconheceram e morreram pela sua desatenção à barbárie que chegava.
A
preocupação em reconhecer o ponto pode levar a paralelos exagerados, até
beirando o ridículo. Mas há algo difuso e ominoso se aproximando nos céus do
Brasil, à espera que alguém se dê conta e diga “Epa” para detê-lo? Precisamos
urgentemente de um “Epa” para acabar com esse clima. Pessoas trocando insultos
nas redes sociais, autoridades e ex-autoridades sendo ofendidas em lugares
públicos, uma pregação francamente golpista envolvendo gente que você nunca
esperaria, uma discussão aberta dentro do sistema jurídico do país sobre
limites constitucionais do poder dos juízes… Epa, pessoal.
Se está
faltando algo para nos avisar quando chegamos ao ponto de reconhecimento
irreversível, proponho um: o momento da posse do Eduardo Cunha na presidência
da nação, depois do afastamento da Dilma e do Temer.
Comentários