Ato político
Olívio Dutra, grande líder popular do Rio
Grande do Sul, disse certa vez: “de overdose de propaganda também se morre”. A
sabedoria popular também sabe e ensina que “tudo que não mata engorda ou ajuda
a tornar mais forte”.
Digo isso porque a vida e os caminhos da disputa
política sempre foram e continuarão indo muito além da telinha, da vontade
afoita dos rebeldes sem causa ou noção gestados pelo território aparentemente
sem leis ou limites das redes sociais ou dos interesses de grupos retrógrados e
caducos que sempre se julgaram donos de tudo e todos aqui no Brasil.
Apesar do ódio, da histeria e vilania o PT
segue vivo, forte e pronto para novos avanços e vitórias. Pelo menos isso é o que
aponta o escrito de Marcos Coimbra com base em pesquisa do VOX POPULI.
(Marcos Coimbra)
Nestes
tempos em que a intolerância, o preconceito e o ódio se tornaram parte de nosso
cotidiano político, é fácil se assustar. É mesmo tão grande quanto parece a
onda autoritária em formação?
Quem se
expõe aos meios de comunicação corre o risco de nada entender, pois só toma
contato com o que pensa um lado. Será majoritária a parcela da opinião pública
que se regozija ao ouvir os líderes conservadores e assistir aos comentaristas
da televisão despejar seu ódio?
Recente
pesquisa do Instituto Vox Populi permite responder a algumas dessas perguntas.
E seus resultados ensejam otimismo: o ódio na política atinge um segmento menor
do que se poderia imaginar. O Diabo talvez não seja tão feio como se pinta.
Em vez de
perguntar a respeito de simpatias ou antipatias partidárias, na pesquisa foi
pedido aos entrevistados que dissessem se “detestavam o PT”, “não gostavam do
PT, mas sem detestá-lo”, “eram indiferentes ao partido”, “gostavam do PT, sem
se sentir petistas” ou “sentiam-se petistas”.
Os
resultados indicam: permanecem fundamentalmente inalteradas as proporções de
“petistas” (em graus diversos), “antipetistas” (mais ou menos hostis ao
partido) e “indiferentes” (os que não são uma coisa ou outra), cada qual com
cerca de um terço do eleitorado. Vinte e cinco anos depois de o PT firmar-se
nacionalmente e apesar de tudo o que aconteceu de lá para cá, pouca coisa mudou
nesse aspecto.
Nessa
análise, interessam-nos aqueles que “detestam o PT”. São 12% do total dos
entrevistados. Esse contingente tem, claro, tamanho significativo. A existência
de cerca de 10% do eleitorado que diz “detestar” um partido político não é
pouco, mas é um número bem menor do que seria esperado se levarmos em conta a
intensidade e a duração da campanha contra a legenda.
A
contraparte dos 12% a detestar o PT são os quase 90% que não o detestam.
Passada quase uma década de “denúncias” (o “mensalão” como pontapé inicial) e
após três anos de bombardeio antipetista ininterrupto (do “julgamento do
mensalão” a este momento), a vasta maioria da população não parece haver sido
contagiada pelo ódio ao partido.
A pesquisa
não perguntou há quanto tempo quem detesta o PT se sente assim. Mas é razoável
supor que muitos são antipetistas de carteirinha. A proporção de entrevistados
com aversão ao partido é maior entre indivíduos mais velhos, outro sinal de que
é modesto o impacto na sociedade da militância antipetista da mídia.
Como seria
de esperar, o ódio ao PT não se distribui de maneira homogênea. Em termos
regionais, atinge o ápice no Sul (onde alcança 17%) e o mínimo no Nordeste
(onde é de 8%). É maior nas capitais (no patamar de 17%) que no interior (4% em
áreas rurais). É ligeiramente mais comum entre homens (14%) que mulheres (10%).
Detestam a legenda 20% dos entrevistados com renda familiar maior que cinco
salários mínimos, quase três vezes mais que entre quem ganha até dois salários.
É a diferença mais dilatada apontada pela pesquisa, o que sugere que esse ódio
tem um real componente de classe.
Na
pesquisa, o recorte mais antipetista é formado pelo eleitorado de renda elevada
das capitais do Sudeste. E o que menos odeia o PT é o dos eleitores de renda
baixa de municípios menores do Nordeste. No primeiro, 21% dos entrevistados, em
média, detestam o PT. No segundo, a proporção cai para 6%.
Não vamos
de 0 a 100% em nenhuma parte. A sociologia, portanto, não explica tudo: não há
lugares onde todos detestam o PT ou lugares onde todos são petistas, por mais
determinantes que possam ser as condições socioeconômicas. Há um significativo
componente propriamente político na explicação desses fenômenos.
O
principal: mesmo no ambiente mais propício, o ódio ao PT é minoritário e
contamina apenas um quinto da população. Daí se extraem duas consequências.
Erra a oposição ao fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista.
Querer representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for
vencer eleições majoritárias.
Erra o
petismo ao se amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria do
antipetismo radical. Só um desinformado ignora os problemas atuais da legenda.
Mas superestimá-los é um equívoco igualmente grave.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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